Na atual pandemia de COVID-19 causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2), um aspecto importante é entender como a disseminação do vírus impacta cadeias de suprimentos.
Em resposta à pandemia, restrições a viagens, medidas de afastamento social e quarentena são impostas pelos governos. Consequentemente, estima-se uma redução de 40% a 50% dos gastos discricionários dos consumidores, o que levaria a um encolhimento de 10% do PIB mundial (Smit et al., 2020).
Há uma expectativa de aumento da taxa de desemprego e de pobreza, afetando principalmente a população mais vulnerável. Ao mesmo tempo, há um aumento na demanda por suprimentos médicos e domésticos (alimentos não perecíveis, material de higiene e de limpeza).
Ainda, devido às medidas de isolamento, há impactos diretos em cadeias de suprimentos, levando ao risco de desabastecimento.
As empresas enfrentam riscos de ruptura em suas cadeias de suprimentos devido à pandemia do coronavírus. O fechamento de fábricas e a redução da capacidade de transporte (entre 20% e 40% na China) durante o primeiro trimestre de 2020 tem levado a atrasos no suprimento e até a ruptura de estoques de diversas fábricas em todo o mundo (Craven et al., 2020).
Assim, as empresas devem buscar resiliência nas suas cadeias de suprimentos, definindo estratégias para (i) identificar fornecedores críticos; (ii) avaliar o impacto desses fornecedores em seus negócios; e (iii) desenvolver um plano de recuperação que garanta capacidade e lide com os desafios dos negócios.
Alike et al. (2020) sugerem que as empresas adotem as seguintes medidas:
1) Crie transparência em toda a cadeia de suprimentos, identificando os componentes críticos e seus fornecedores e buscando alternativas de substituição.
2) Estime o estoque disponível ao longo da cadeia de valor para manter a operação e atender os clientes.
3) Analise a demanda do consumidor final.
4) Otimize a capacidade de produção e distribuição, para a garantir a segurança de seus colaboradores com o fornecimento do equipamento de proteção individual (EPI) e com a possibilidade de home-office.
5) Identifique e assegure a capacidade logística.
6) Gerencie o fluxo de caixa e a liquidez do capital de giro.
O surto de COVID-19 implicou em severa crise em países desenvolvidos. O cenário é ainda mais preocupante à medida que avança em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento, em especial aqueles que já enfrentam outras crises, como guerras e miséria. Logo, é preciso um esforço global, de caráter humanitário, para ajudar os países vulneráveis a combater o coronavírus.
Com a pandemia, EPIs e materiais de higiene se encontram escassos em hospitais da rede pública e privada. Além disso, a população passou a estocar produtos para se preparar para eventuais quarentenas. A carência de produtos, por sua vez, leva a um aumento geral dos preços.
Neste contexto, a logística humanitária pode ajudar a minimizar o efeito da pandemia entre os mais vulneráveis, distribuindo suprimentos de alívio (alimentos não perecíveis e materiais de higiene e limpeza). Porém, faz-se necessário controlar problemas de convergência de materiais. Em desastres, normalmente há doações massivas de itens não prioritários, que geram gargalos logísticos que impedem a distribuição eficiente dos itens prioritários.
Sugere-se, assim, que iniciativas de arrecadação de doações foquem na coleta de recursos financeiros, evitando a acumulação de doações de materiais, que podem apresentar contaminação e causar problemas de saúde pública. As organizações recebedoras, por sua vez, precisam dar visibilidade às doações recebidas, tornando o processo transparente para o doador.
Para a distribuição dos suprimentos de alívio, a articulação com redes locais (como líderes comunitários e igrejas) pode servir para unir esforços de comunidades com os setores público e privado. `
Muitos impactos na cadeia de suprimentos devido à pandemia são semelhantes ao que acontece após outros tipos de desastre. Se o sistema de saúde do país entrar em colapso, as consequências serão ainda mais graves. Assim, muitos conceitos da logística humanitária podem ser agora aplicados.
Respeite o isolamento social e o papel dos trabalhadores que estão na linha de frente no combate ao COVID-19 (forças armadas, forças policiais, comunidade médica, serviços de alimentação e transporte).
Use recursos de forma responsável (como suprimentos médicos, alimentos e tecnologias da informação) e ajude a articular nossas redes locais. Doe em dinheiro para organizações que possam fazer os kits e a distribuição logística segundo as normas de biossegurança recomendadas (acesse aqui para informações sobre medidas de higienização no transporte de carga).
A redução de serviços de entrega de produtos não essenciais é necessária para que seja reduzida a movimentação e a circulação de pessoas e produtos.
Quer saber mais sobre Logística Humanitária? Indicamos o livro “Logística Humanitária“, de Leiras et al. (2017).
Adriana Leiras é professora do Departamento de Engenharia Industrial da PUC-Rio e Coordenadora do Lab HANDs – Humanitarian Assistance and Needs for Disasters.
Renata Anderson é professora do Departamento de Administração na Northern Kentucky University.
Renata Albergaria M. Bandeira é professora do curso de Pós-graduação em Engenharia de Transportes do Instituto Militar de Engenharia.
Tharcisio Cotta Fontainha é professor do Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ e Coordenador de Projetos do Lab HANDs – Humanitarian Assistance and Needs for Disasters.